às vezes, escrevo

2022, Twitter e valores

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Recentemente completei mais um aniversário de twitter. No dia 26 de dezembro de 2010, 12 anos atrás, eu criei a conta zanoniguilherme. Essa foi, na verdade, minha segunda conta no twitter - perdi a primeira mexendo em algum desses sites de compra de seguidores (ridículo, eu sei. Eu tinha, sei lá, 13 anos de idade). Posso afirmar com alguma segurança que acessei o twitter mais de uma vez por dia, todos os dias, ao longo desses 12 (doze!) anos. O site moldou boa parte do meu humor e arrisco dizer que marcou o desenvolvimento da minha personalidade em si (com certeza mudei muito dos 14 pros 26 anos de idade).

Esse ano, no entanto, decidi me afastar da plataforma. Se você acompanha minimamente o jornalismo de tecnologia, sabe que Elon Musk comprou o twitter em 2022. Essa foi a gota d'água, o último empurrão que eu precisava pra sair da rede. Mas não foi o primeiro, com certeza. O ambiente do twitter se tornou tóxico há muito tempo. Gente demais falando coisa demais em tempo de menos. Muita opinião mal digerida, apressada, muita vontade de viralizar lacrando em cima dos outros. E eu não quero aqui parecer superior: eu mesmo caí nesse padrão de comportamento diversas vezes. É o que a rede incentiva, é assim que ela funciona, e é boa parte da graça do site, mesmo. No meu caso foi, ao mesmo tempo, o motivo pra eu querer sair de lá e justamente aquilo que me mantinha no site. Quem usa o twitter sabe bem e inclusive tira sarro disso: "lembra aquela vez que cancelaram uma menina porque o pai dela comprou sorvete pra ela?"

A compra do twitter pelo Musk piorou muita coisa (muita mesmo. Não cabe listar aqui, mas cabe consultar a lista de quem tem documentado isso: twitterisgoinggreat.com. Mais do que isso, me fez questionar a decisão de manter a minha conta ativa a partir de uma perspectiva de valores. Em 2022, manter uma conta no twitter passou a ser, além de insalubre, uma atitude frontalmente oposta aos meus valores. Manter essa conta significa concordar com a personalidade, atitude e forma de pensar de Elon Musk; significa dar dinheiro a este homem; significa conviver com supremacistas brancos, bolsonaristas e todo tipo de absurdo que indivíduo nenhum dá conta de bloquear e silenciar sozinho.

Em 2022, me aproximei da ideia de software livre, e percebi como essas coisas podem sim funcionar super bem para meu uso. Ganho em privacidade, sem perder em funcionalidade. Então, por quê não? Sei que isso muda muito pouco no grande esquema das coisas. Minha revolução de uma pessoa não vai tornar Elon Musk ou Bill Gates menos bilionários. Mas o objetivo talvez não seja esse, na verdade. O objetivo é agir em direção a meus valores, alinhar minhas atitudes com minhas palavras.

Sinto falta das várias pessoas que conheci no twitter e com quem interagia apenas por lá. Mesmo que sem conversar com a pessoa, ler seus tweets era um jeito de saber tudo que se passava com ela. Sinto falta disso. Mas não consigo, por agora, negociar esse valor. Então, fica o convite: se você também quer sair desse buraco que virou o twitter, me chama que eu te convido pro Mastodon. Mas, po menos por agora, não pretendo voltar pro Twitter.

Pra fechar, duas recomendações: Chegou a hora de sair do twitter, do Manual do Usuário

E Tech Journalism Doesn’t Know What to Do With Mastodon, no Medium

E, se você ainda quer me ver pela internet, minha conta no Mastodon é @NotADiamond 😉

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