às vezes, escrevo

então gente, A MADONNA !!

O texto do Thallys Braga pra Piauí, Madonna, a mãe, aponta uma coisa que é incrivelmente arquetípica, quase que um esteriótipo (num bom sentido). Como que pode todo viado do país ter uma vivência em comum, mesmo cada um nascendo num ano, numa família, numa classe social diferente?? Enfim. O texto fala do quê as Divas Pop, mas a Madonna especificamente, são capazes de representar pra essas pessoas, pra nós. É um texto lindíssimo e que eu indico muito.

Mesmo não tendo uma conexão assim tão intensa com a Madonna (pelo menos não antes do dia 04/05/24), ela e esse show significaram algo pra mim. Uma coisa que não é tanto de explicar, é mais de sentir: Liberdade.

Minha história com a minha sexualidade e minha performance de gênero sempre teve um certo grau de ambiguidade. Nada muito extremo, só o suficiente pra deixar muito hétero meio confuso, meio perdido. Acho que é uma ambiguidade meio característica da bissexualidade mesmo: eu nunca me apresentei muito machinho, sempre pareci um pouco delicado demais pra ser lido totalmente como hétero; ao mesmo tempo, namoro desde a adolescência com uma mulher, o que depunha contra eu ser viado. Então eu era os dois e nenhum, o tempo todo. (Hoje isso tá longe de me incomodar, acho é divertido.)

Além disso, eu cresci sendo um menino meio desengonçado. Durante a primeira parte da adolescência (ou a última parte da infância, talvez?) eu era o nerdzinho, meio "acima do peso", usava um corte de cabelo e um óculos que não combinavam com meu rosto, e provavelmente tinha alguma ansiedade social que de alguma forma passou batido sem ser diagnosticada. Meu ponto aqui é que eu já tinha motivos o suficiente pra estar hipervigilante sobre meu gestual, minha linguagem corporal. Cada movimento meu tinha que ser contido o suficiente pra não parecer desengonçado (o que, claro, só os deixava ainda mais desengonçados). Acrescente o medo de parecer afeminado nessa mistura e TCHARAN: muita, muita ansiedade social.

E aí eu descobri as baladas LBGT. A ideia de um lugar intencionalmente mal iluminado, com música BOA e cheio de gente parecida comigo foi… libertadora. E olha que eu nem frequentei tantas festas assim ao longo da minha vida. Mas não era sobre a quantidade, era sobre a possibilidade, sobre saber que esse espaço existe e que eu posso existir nele. Sem mascarar. Sem esconder. Quebrando o quadril e os pulsos tanto quanto eu quisesse. E esse show foi um monumento a isso. E foi lindo, e eu não consigo parar de pensar nele. Acho que é por isso que na véspera eu senti tanta necessidade de ir pra uma watch party em vez de só assistir do sofá da sala. E ainda bem que saí. Ainda bem que vi isso acontecer cercado de gente. Obrigado Madonna.