às vezes, escrevo

minha relação com atividade física

antes de começar, um aviso: lá pra baixo, no final do texto, eu vou incluir algumas imagens de como meu corpo mudou nesses últimos 3 anos de atividade física. Tô fazendo esse aviso porque sei que esse tipo de comparação pode ser desconfortável pra algumas pessoas.

Quero começar esse texto fazendo um histórico/contextualização: eu fui uma criança/adolescente nerdzinha, como talvez seja de se esperar se você me conhece pelo menos um pouco (capaz que dá pra chamar de nerd qualquer um que tenha um blog em pleno 2025, né? Enfim). Não me lembro de ter sofrido muito bullying direto, explícito, mas acho que tinha muita coisa mais… sutil. Uma sensação meio permanente de deslocamento e de… não pertencer, talvez?

A educação física era sempre o pior momento pra mim. Não sei se é coincidência ou se parte do sistema de castas sociais escolar, mas os meninos populares eram bons em todos os esportes enquanto eu não me salvava em nenhum (mais tarde, no ensino médio, até que aprendi a me virar no vôlei. No fundamental isso não era uma opção porque o professor nunca nem queria colocar a rede). Eu era descoordenado e não me dava bem com nenhum jogo que envolvesse uma bola (ou seja, todos). Lembro da sensação de entrar na quadra da escola: minhas mãos suando sem parar, meu corpo tremendo como se eu estivesse sentindo frio. Sinais claríssimos de ansiedade, mas eu não conhecia essa palavra na época. Pra piorar tudo, o professor Volney, tentando me incluir, obrigava os meninos a passarem a bola pra mim quando a gente jogava futebol. O resultado? Eu errava o passe, perdia a posse de bola em segundos e todo mundo ficava com raiva de mim. Que boa ideia, Volney!!

Essa experiência toda foi construindo em mim a percepção de que esportes e atividade física simplesmente não eram pra mim. Eu não levava jeito, não tinha o quê fazer. Vai ver meu negócio é mesmo estudo, computadores, blambers em geral. Paciência.

Larguei mão o quanto pude e na faculdade eu parei de pensar nisso. A atividade física que eu fazia era aquela meio efeito colateral do dia: andar de casa até o ponto de ônibus, ficar em pé no transporte lotado, subir e descer as escadas das estações de metrô ou dos prédios da faculdade.

Aí veio a pandemia e meu deslocamento simplesmente zerou de repente, levando embora meio que toda a atividade física que eu fazia. De início não achei que seria um problema mas né, a gente ficou dois anos naquele inferno. Trabalhando sentado o dia todo e sem sair de casa pra praticamente nada (e evitando o transporte público quando saía), eu comecei a ganhar peso, o que me levou ao hábito da caminhada – era uma atividade que eu podia fazer sozinho e de graça. Minha esposa me deu um Galaxy Watch que ela não tava mais usando e lá fui eu marcar distância e tempo de exercício, essas coisinhas que Funcionaram muito bem como um incentivo na época.

A caminhada me ajudou a perder um pouco de peso e me deixou mais satisfeito com meu corpo. Ótimo! Só que aí eu inventei de tentar correr. Sem nenhum acompanhamento adequado, nem técnica, nem nada. Simplesmente sair correndo. Que ótima ideia!! Sabe quem não gostou? Minha coluna. Então minhas costas travaram hahah

À contragosto, aceitei que teria que fazer pilates pelo menos uma vez por semana pra fortalecer a musculatura das costas e aproveitei o embalo pra começar também a musculação, que eu já tava considerando mas que me deixava com receio. Acho que tinha medo de que o ambiente da academia me provocasse reações como aquelas que a quadra da escola provocavam. Não é pra mim.

Acabou que eu adorei esse ritual de me arrumar de manhã, colocar os fones e passar uma hora em silêncio levantando e empurrando uns pesinhos. Um ponto importante: sou psicólogo clínico, o que no meu caso significa ficar até seis horas por dia ouvindo atentamente outra pessoa falar. No começo eu subestimei o cansaço social decorrente dessa tarefa, mas rapidinho percebi que uma hora de silêncio na academia era fundamental pra começar meu dia de trabalho.
Comecei a querer aprender os nomes e as técnicas dos exercícios, e vi muito resultado no meu corpo, que pela primeira vez na vida começou a parecer definido e com alguns músculos visíveis. Ganhei muita consciência corporal com o pilates, e até hoje me divirto de verdade nas aulas em que consigo fazer um movimento ou sequência que antes era impossível.

Então, tl;dr: por 25 anos da minha vida, atividade física era algo negativo (ou neutro, no máximo). De três anos pra cá, virou algo que eu gosto de verdade, que orienta minha rotina e que mudou bastante minha relação e satisfação com meu corpo.

E sobre resultados?

Eu fiz musculação de um jeito bem "meio-comprometido": por um lado catei umas roupas que eu já tinha e fui pra academia mais perto de casa (que é uma academia de bairro, com uns equipamentos velhos sem manutenção); fui fazendo as fichas que eles me davam lá (feitas por uma das professoras, mas sem nenhuma avaliação – não tiraram meu peso/altura, não perguntaram meu objetivo. Na real nem perguntaram se eu tinha alguma dor ou lesão kkkkkk tudo à moda caralha mesmo).
Por outro lado, desde o começo fui bem direitinho, quatro vezes na semana + um dia de pilates. Comecei a procurar na internet explicações sobre os exercícios, pra que músculo era cada um e como eles funcionavam (talvez justamente por causa dessa postura meio negligente da academia). Não quis gastar dinheiro com suplemento e até hoje não tomo nada nesse sentido (acho esquisitíssimo o marketing desses produtos em TODO perfil de instagram de qualquer pessoa minimamente famosa. E não queria tomar essas coisas sem um acompanhamento adequado, mas também não queria passar com nutricionista porque hoje não sou eu quem cozinha em casa, então não poderia mexer muito na minha dieta de toda forma).

E meio que foi isso, na verdade.

Minha evolução foi mais ou menos assim:

selfie no espelho. Sou um homem branco e loiro. Na foto apareço bem magro. Estou sem camisa e com um short preto e branco. Uso um relógio de pulso no braço esquerdo
É claro que o salto mais visível é o dos primeiros meses, com os ossos aparecendo bem menos seis meses depois. De lá pra cá, as mudanças vão sendo mais incrementais. O que é normal também (acho).

Outra coisa que acho importante ressaltar: no começo desse ano a professora que montava meus treinos saiu da academia e eu não tava gostando dos treinos do professor que entrou no lugar dela. Parecia que eu ficava tempo DEMAIS na academia (mais de 1h30, sendo que antes era bem mais perto de 1h), e os treinos pareciam ter vários exercícios repetidos (supino reto com barra e supino reto com halteres, ou agachamento livre e agachamento no smith, por exemplo). Fora que aquilo dos treinos serem genéricos começou a me incomodar de verdade. Dei uma chance pra ele por uns dois meses e depois resolvi procurar um personal pra fazer o que eles chamam de consultoria online, basicamente um acompanhamento à distância. Comecei a fazer os treinos do Luiz em maio e tenho curtido demais. Acho que deu um ânimo novo num momento em que eu tava perdendo o gosto pela musculação.

A ideia desse post não é ser um desses posts motivacionais, só queria compartilhar a minha experiência pessoal mesmo. Na minha experiência, os pontos importantes foram esses: 1) encontrar uma atividade que eu realmente gosto (foram duas, no caso); 2) começar simples, do jeito que dá; 3) se manter indo (esse passo é muito facilitado pelo primeiro). A coisa da consultoria online com um personal pode ser legal se você gosta de treinar sozinho, mas sabendo que não tá à moda caralha. Talvez não seja uma coisa tão legal de se fazer logo de cara, quando você ainda não conhece a maioria dos exercícios e tal. Não sei. Enfim, é isso!


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