às vezes, escrevo

pneumonia, so confusing sometimes (dias 13 - 14)

É galera, conforme atualizei aqui, a bronquite a que me referi no último texto era na verdade uma pneumonia. O nome assusta mais do que os sintomas, que continuaram sendo apenas um, na verdade: tosse. tosse seca. tosse de la tosse. só isso.

E aí é que tá o problema: o quão sério é essa bagaça? Trabalho ou tiro dias de repouso? Como argumento com meu chefe sobre isso? Dou um tempo da academia? Quanto tempo? Não tive respostas muito precisas pra nenhuma dessas perguntas, de modos que fui meio que descobrindo ao longo desses treze/catorze dias não tão bons: não muito. Trabalhe o quanto der e tire folgas conforme precisar. Ele vai entender. Sim. Até agora já foram 09 dias.

A doença tem um impacto sobre o meu humor como um todo, que eu tive alguma dificuldade em dimensionar no começo. Não fiquei com aquela moleza explícita da gripe, mas tô sentindo meu pensamento meio avoado e tá sendo mais complicado focar nas coisas. Às vezes esqueço o que ia dizer no meio da frase.

Não poder fazer musculação me tira um dos grandes prazeres diários que encontrei nos últimos dois anos. É, eu me tornei essa pessoa. Não um rato de academia (cruzes), mas alguém que malha consistentemente, se interessa em reproduzir bem a técnica e que, principalmente, gosta de estar ali, de fones e em silêncio, por uma hora e meia ocupando a mente com a única tarefa de contar até 12 várias vezes. Nos últimos dois anos a academia cumpriu uma função de me oferecer uma folga de outras pessoas (muito relevante no contexto do meu trabalho como terapeuta, que envolve justamente o contrário - estar bastante atento à outras pessoas, ouvindo o que elas têm a dizer, absorvendo e analisando); também serviu como um excelente regulador da minha rotina. Acordo neste horário, tenho minha rotininha da manhã, vou à academia neste horário, volto neste, tomo banho, faço um lanche e aí sim começo a trabalhar, já mais endorfinado. Estou sem isso há 09 dias.

A especificidade do meu trabalho cria outros tipos de dilemas. Como não trabalho para uma empresa (nem pra um empregador único), a decisão sobre trabalhar ou não fica bem mais pulverizada. Sexta senti que precisava do dia inteiro de folga, o que implicou em desmarcar três pacientes e uma supervisão. Naquele momento, percebi alguns pensamentos e sentimentos de culpa. Se eu trabalhasse pra uma empresa, um CNPJ qualquer, acho que isso não seria uma questão. Sei que, por mais importante que eu fosse, dificilmente a empresa pararia sem mim. Duvido que teria um impacto tão grande sobre seu faturamento ou a satisfação dos seus clientes ou qualquer coisa assim. Mas como trabalho para os meus pacientes, cada falta minha representa uma semana sem terapia para aquela pessoa. Nesses dias, tentei me forçar a lembrar que sou uma pessoa também. Que tenho um corpo que sofre com infecções e que adoece de vez em quando, por melhor que eu cuide dele. E sei que meus pacientes sabem disso, também. Acho que isso ajuda a contrapor a parte julgadora da minha cabeça que fica repetindo "mas você nem tá tão mal assim, para de ser preguiçoso e vai trabalhar!".

Nesse meio tempo também tava pra acontecer o show do Keane, que eu e a esposa já tínhamos comprado há meses. Keane é uma banda muito especial pra mim, ainda que eu não conheça tanto assim sobre eles. Victória (a supracitada esposa, hahah) conheceu a banda porque eles abriram o show do Maroon 5 que ela foi. Acho que era o começo do nosso namoro. Então ela me apresentou a banda e eu adorei as músicas. Acho que eles têm uma vibe meio desiludida com a vida, uma tristeza meio existencial que muito me atrai. Ouvi muito as músicas deles em momentos mais pra baixo. Também associei à Grey's Anatomy, por algum motivo. Acho que as músicas do Keane e os episódios de Grey's Anatomy foram duas obras que me ajudaram a chorar quando eu era adolescente e precisava chorar. Também me ajudaram a me conectar com essa tristeza sofrida, mas tão bonita de sentir. Enfim. Fomos ao show, o que foi um outro dilema pra mim. Pensei "nossa, pra trabalhar tá doente, mas pra ir pra show tá bemzão né???". Também me esforcei pra relativizar esses pensamentos. Lembrar que sou um corpo e uma pessoa, como falei ali em cima. Acho que tem uma cobrança moral mais alta quando você se vê como terapeuta além de uma pessoa qualquer, um prato cheio pra alguém que já é meio certinho como eu. Não tava morrendo de doente; cancelei alguns atendimentos justamente pra ter energia pra ir ao show, que não foi exatamente barato e que já estava comprado há meses, além de que o Keane não é uma banda que vem ao Brasil o tempo todo (eles tavam em hiato até pouco tempo atrás inclusive, então periga até a banda sumir antes de voltar ao Brasil, se der mole demais).

Foi uma boa escolha, no final. O show foi lindo e muito especial. Eu estaria me recuperando melhor se tivesse ficado em casa? Provavelmente. Mas ei, também atendi doente alguns dias, então fiz sacrifícios para todos os lados. Estou me equilibrando. Minha moral vai sobreviver. Meus pulmões também.

Ah, e fica aí a setlist do show do Keane, um excelente jeito de conhecer a banda na minha opinião: